DESENVOLVIMENTO INFANTIL

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Mostramos abaixo uma tabela resumo das principais características do desenvolvimento da criança nos seus primeiros anos de vida.
As características mostradas são as mais comuns para cada faixa etária. É normal que a criança apresente um ou outro aspecto adiantado ou atrasado em relação à tabela de desenvolvimento, e isto vai depender essencialmente dos estímulos que a criança recebe no seu dia a dia, por isto, é imprescindível que os pais saibam como estimular seus filhos e também que o desenvolvimento da criança seja acompanhado pelo pediatra e/ou profissionais especializados.
Faixa Etária: 0 a 3 meses
Ações que realiza: No primeiro mês, reage perante barulhos muito altos e pode se assustar com barulho inesperado. Passa boa parte do tempo dormindo. Seu sistema visual é limitado, portanto só enxerga algum objeto ou alguém se estiver bem próximo a ele. No 2º ao 3º mês, o bebê já começa a acompanhar objetos e pessoas com os olhos e reconhece os pais.Abre e fecha as mãos, leva-as à boca e suga os dedos.Segura objetos com firmeza por certo tempo e consegue pegar objetos suspensos.
Comportamento: Desenvolve um tipo diferente de choro para cada problema que se apresenta, como por exemplo, o constante e agudo. Com brincadeiras e músicas o bebê fica agitado, realizando movimentos de pernas, braços, sorri e dá gritinhos.
Como se comunica: Quando ouve a voz dos pais, o bebê vira a cabeça.Comunica-se através do choro e ruídos. Imita alguns sons de vogal.Nesta fase, é importante organizar a rotina do bebê, tornando os horários das atividades fixos, como por exemplo, trocar a fralda depois da mamada ou dar banho todos os dias na mesma hora. É importante que a rotina seja de forma razoavelmente metódica.

Faixa Etára: 4 a 7 meses
Ações que realiza: Fica na postura de bruços e se apóia nos antebraços quando quer ver o que está acontecendo ao seu redor.Rola de um lado para o outro.Estende a mão para alcançar o objeto que deseja, transfere-o de uma mão para outra e coloca-o na boca.Apresenta equilíbrio quando colocado sentado.
Como Reage: Ri quando algo o agrada e quando o desagrada mostra raiva através da expressão facial.Nesta fase, alguns bebês podem demonstrar medo perante pessoas estranhas.Fica repetindo os seus próprios sons e imita as vozes das pessoas ao seu redor
Como se comunica: Movimenta a cabeça na direção do som escutado.Pára de chorar ao ouvir música.Sorri quando quer atenção do adulto.Formação do conceito de causa e efeito no momento em que está explorando um brinquedo.Olha, chacoalha, e atira objetos ao chão.

Faixa Etária: 8 a 11 meses
Ações que realiza: Engatinha e senta sem apoio.Consegue ficar em pé com apoio.Aponta para objetos ou pessoas.Pega pequenos objetos com o indicador e o polegar
Como Reage: Demonstrar raiva quando não é o centro das atenções.Reconhece sua imagem no espelho e reage com euforia.Reclama quando é contrariado.
Como se comunica: Localiza a fonte sonora.Bate palmas, joga beijo e entende quando lhe dizem tchau.Começa a compreende o significado de alguns gestos.Balança a cabeça quando não quer alguma coisa.Fase do treino com monossílabos do tipo: “ma-ma”, “da-da”, “ne-ne”.

Faixa Etária: 1 a 2 anos
Ações que realiza: Anda sem apoio.Com 1 ano e 6 meses pode começar a correr, subir em móveis e ficar nas pontas dos pés sem apoio.Vira páginas de um livro ou revistas (várias ao mesmo tempo).Gosta de rabiscar no papel.Sabe quando uma ilustração está de cabeça para baixo.
Como Reage: Mostra senso de humor.Nesta fase, o bebê ainda não compreende as regras, contudo chora quando leva uma bronca e sorri quando é o centro das atenções ou quando é elogiado.Quando está bravo, pode atirar objetos ou brinquedos.É possessivo. Prefere não compartilhar brinquedos com as outras crianças.
Como se comunica: Reconhece o próprio nome.A partir dos 18 meses começa a criar frases curtas.A criança começa a formar frases com uma palavra só, tipo “nenê-papá, nenê-naná”, mas até o término do ano constrói frases de até três palavras como: “quer ver tevê”.Esta é a fase das perguntas: “que é isso?”Usa o próprio nome.Reconhece as partes do seu corpo e de outras pessoas.Apresenta atenção para histórias pequenas.

Faixa Etária: 2 a 3 anos
Ações que realiza: Tira os sapatos.Chuta bola sem perder o equilíbrio.Gosta de dançar, consegue acompanhar o ritmo da música batendo palmas.Nesta fase a criança está pronta para abandonar o uso das fraldas.
Como Reage: Apresenta percepção de quem é.Mexe em tudo e faz mal criação, testa a autoridade.Tenta impor suas vontades.Prefere companhia para brincar.Gosta de participar dos serviços de casa, como por exemplo arrumar a mesa do jantar.
Como se comunica: As frases vão aumentando e surge o plural. As crianças nesta fase tem uma ótima compreensão, entendem tudo que é dito em sua volta. Pergunta: "cadê", "O que", "onde". Fala de si mesma na 3a. pessoa. Chama familiares próximos pelo nome.

Faixa Etária: 3 a 4 anos
Ações que realiza: Consegue colocar suas roupas e tirá-las sem ajuda de um adulto.Gosta de desenhar.Nesta fase já consegue segurar um lápis na posição correta.Consegue pedalar.
Como Reage: Brinca com as outras crianças.Apresenta interesse pelos sentimentos das pessoas que estão ao seu redor, por exemplo, se perceber que seu pai está triste, procura confortá-lo.
Como se comunica: Constrói frases com até seis palavras, sobre o dia a dia, situações reais e pessoas próximas.Compreende a existência de regras gramaticais e tenta usá-las.É comum a troca do '"r" pelo "l", a qual acaba por volta dos 3 anos e 6 meses. Compreende os conceitos de igual e diferente.É capaz de separar os brinquedos por tamanho e cor.Lembra e conta histórias.

Faixa Etária: 4 a 5 anos
Ações que realiza: Consegue usar a tesoura, corta papel. Maior domínio no uso de talheres.Consegue pegar a bola com as duas mãos quando está em movimento.
Como Reage: Está mais sociável com as outras crianças.Se sente grande perto das crianças menores. Sente vontade de tomar as suas próprias decisões.
Como se comunica: Nesta fase o vocabulário da criança aumentou bastante, já fala muitas palavras.Expressa seus sentimentos e emprega verbos como “pensar” e “lembrar”.Também fala de coisas ausentes e usa palavras de ligação entre as sentenças, como por exemplo: “e então”, “porque”, “mas”, etc. Gosta de inventar e contar as próprias histórias.Consegue identificar algumas letras do alfabeto e números.

ARTIGO: Introdução a pragmatismo linguístico

INTRODUÇÃO AO PRAGMATISMO LINGÜÍSTICO
Jorge da Silva (UERJ/FFP)
Vera Lucia T. da Silva (UERJ/FFP)


INTRODUÇÃO

Da mesma maneira como ocorre em outras áreas da ciência, o estudo da linguagem tem sido afetado pelas inconsistências e hesitações originadas na pretensão filosófica de que o conhecimento científico deva ser justificado racionalmente. Assim é que, desde a antigüidade, teorias têm sido propostas a respeito da origem e da natureza da linguagem humana - elemento essencial à compreensão da própria existência do ser humano e do universo -, e bem assim sobre como o pensamento se articula com a linguagem (ou esta com aquele), e como a linguagem se estrutura e é apreendida pelos sujeitos falantes.

Além dessas preocupações de cunho filosófico, e levando-se em conta a multiplicidade de línguas existentes no mundo - e também a necessidade de os homens se comunicarem para compartilhar conhecimentos e experiências -, torna-se fundamental buscar conhecer, de um ponto de vista prático: a) que mecanismos estão presentes no processo de aquisição natural da linguagem em geral e de uma determinada língua materna em particular; b) como o indivíduo humano utiliza a linguagem no dia-a-dia, nas diversas situações; c) se, no aprendizado de uma língua estrangeira (LE) ou segunda língua (L2), os processos envolvidos diferem grandemente da aprendizagem da língua materna; d) como as diferentes habilidades lingüísticas (falar, ouvir, ler, escrever) em LE ou L2 podem ser transmitidas e adquiridas e, mais que tudo, aprimoradas; e) de que forma a língua materna, particularmente o fenômeno da fossilização linguística, interfere na aprendizagem da língua-alvo.

O presente texto tem por escopo assinalar a importância de se abordar estas questões de forma pragmática, vale dizer, com a atitude filosófico-metodológica do pragmatismo lingüístico, interessado no papel das línguas como instrumento cultural-social, de comunicação e interação entre indivíduos e povos. Embora o conhecimento produzido por filosóficos e lingüistas sobre a natureza da linguagem e sobre como esta é originariamente adquirida pelo ser humano (em contraste com a linguagem não-humana) seja de crucial importância para o ensino / aprendizagem de línguas, a atitude pragmática levará em conta os achados dos filósofos (e sobretudo as suas perplexidades) mas concentrar-se-á nos problemas encontrados concretamente no processo de aprender / ensinar uma língua estrangeira, ou segunda língua.

As afirmações do texto buscam sustentação, de um lado, nas idéias de filósofos como Wittgenstein (1953), Khun (1994), Rorty (1980) e Watkins (l984); e de outro lado, nas de linguistas teóricos e aplicados como Coulthard (1977), Leech & Thomas (1990), Ellis (1994), Lightbown & Spada (1993), Brown (1994) e Akmajian et al. (1995). Os primeiros, preocupados com a natureza do conhecimento em geral, e mantendo uma atitude mais ou menos comum de ceticismo em relação à possibilidade de justificação racional do conhecimento científico, centram tal possibilidade nos sujeitos cognoscentes (os indivíduos) - e não no objeto do conhecimento em si (a linguagem). Lançam, então, os fundamentos de abordagens que irão levar em conta os fatores da realidade: culturais, históricos, sociológicos, psicológicos e antropológicos envolvidos. (Thomas Khun chega mesmo a afirmar que a ciência não tem nada a ver com a racionalidade e que os seus mecanismos se explicam de modo empírico-descritivo, e não apriorístico-normativo). Os segundos, preocupados especificamente com o fenômeno da linguagem, vão tentar livrar-se dos confinamentos de teorias como o estruturalismo linguístico inaugurado por Ferdinand de Saussure e desenvolvido sobretudo pelo lingüista norte-americano Leonard Bloomfield; e igualmente não insistirão nas complexidades do gerativismo transformacional de Noam Chomsky e sua “Gramática Universal”, a qual explicaria pretensos universais lingüísticos inerentes a qualquer ser humano, independentemente desta ou daquela língua materna (Lightbown & Spada, 1993; e Brown, 1994). Estes irão, sim, aprofundar os estudos que acabarão por reforçar a importância da pragmática linguística (“pragmatics”), ramo da lingüística que nos dias de hoje disputa com outras disciplinas a primazia do estudo dos fatores contextuais retro-referidos. Assim, ao lado da pragmática, vão concorrer a filosofia da linguagem, a sociolingüística, a psicolingüística, a antropologia lingüística, a etnolingüística, a neurolingüística.

Embora se deva reconhecer a dificuldade de abordar o tema de um ponto de vista estritamente lingüístico, quer dizer, deixando de lado as preocupações das disciplinas supra-referidas, conforme afirmam Brown & Yule (1983: ix), é com essa pretensão - lingüística - que se visualiza o pragmatismo neste texto. Tal pretensão se justifica pelo fato de o nosso interesse ser o ensino / aprendizagem do inglês como língua estrangeira para falantes do português do Brasil. As considerações que se seguem, sobre a ‘linguagem humana’ e o ‘pragmatismo lingüístico’, não tratam de problemas concretos. São uma tentativa de encurtar o caminho do leitor, que poderá, lido o presente texto, ir direto ao ponto, ou seja, o ‘ensino / aprendizagem do inglês como língua estrangeira’, sem perder-se em especulações. Tais considerações constituem-se, portanto, em informação propedêutica, essencial a professores e aprendizes.


A LINGUAGEM HUMANA

Desde tempos imemoriais o ser humano vem se afligindo com questões cruciais a respeito de sua própria existência. Num círculo vicioso, passará da incerteza à perplexidade; da perplexidade às concepções mitológicas; da mitologia às teorias pretensamente racionais; das teorias à certeza; e da certeza novamente à incerteza e à perplexidade. Ele se deu conta de que a contrapartida do poder da mente humana era, paradoxalmente, a sua (da mente humana) limitação para explicar as questões relativas a si mesmo e ao mundo em que vivia. O fascínio diante do universo fê-lo imaginar-se como um ser único em toda a natureza, no mundo animal, vegetal ou químico, crença nutrida em bases míticas e teológicas; a ponto de levá-lo a retratar-se como sendo a imagem e semelhança de Deus. Daí, maravilhado com essa imaginária distinção, o homem buscou interpretá-la com a faculdade de que é peculiarmente dotado: a razão. Com efeito, não houve momento de sua história - por mais que estivesse perdido na escuridão da ignorância a respeito dessas questões - em que ele não se arriscasse a “raciocinar” sobre as mesmas, e engendrar visões de mundo consentâneas com as várias etapas do seu desenvolvimento. E se sempre foi assim na história da humanidade, não haveria de ser diferente nos dias de hoje; estranhável seria se assim não o fosse.

Há que se admitir, portanto, que o homem contemporâneo - a despeito do considerável domínio da natureza e das magníficas realizações do pensamento - continua a vivenciar angústias tais que ainda é possível vê-lo com aquele mesmo medo da fúria dos deuses, manifestada através dos raios e dos trovões. Não obstante o fato de a filosofia ter-lhe acenado com a possibilidade de buscar a certeza sobre novas concepções de mundo, a própria filosofia colocou-lhe perguntas para as quais não consegue encontrar resposta. Dentre estas perguntas, as referentes à origem e a natureza da linguagem humana são provavelmente as mais instigantes, pois elas se apresentam como uma preliminar à problemática do conhecimento em si. Ora, se é com a linguagem que essas intrincadas questões hão de ser explicadas (se é que um dia serão...), coloca-se aos filósofos e aos lingüistas o problema adicional de o objeto do seu estudo (a linguagem) ter que explicar-se a si mesmo. Em suma: trata-se do desafio de explicar enunciados (necessariamente lingüísticos) com outros enunciados necessariamente lingüísticos. Daí, continuarem sem resposta as seguintes indagações: qual a origem da linguagem humana? É fruto de evolução ou é uma faculdade em estado latente no “Homo sapiens sapiens” desde que este apareceu na face da terra, dependendo simplesmente de cultivo? O pensamento é conseqüência da linguagem, ou “vice-versa”? Poderia haver pensamento extra-linguístico, isto é, que não dependesse da linguagem para ser pensado? Teria a linguagem a capacidade de expressar todos os pensamentos que ocorrem ao ser humano, por mais intrincados e difusos que sejam?

Além da importância intrínseca do fenômeno lingüístico, por conseguinte, há que assinalar a sua relevância, e mesmo indispensabilidade, para o estudo da história do homem e das suas relações com os semelhantes e com o mundo (físico e metafísico...). Se não se podem encontrar respostas para perguntas tão complexas, isto não tem impedido, todavia, o extraordinário desenvolvimento do pensamento ao longo dos tempos, coincidentemente paralelo ao desenvolvimento da linguagem articulada.

De um ponto de vista pragmático - referente às potencialidades da linguagem não só para a comunicação humana, como, igualmente, para a elaboração de raciocínios complexos - os estudos direcionados a saber como funciona a linguagem corrente, no dia-a-dia, ganham realce; e será fundamental sobretudo conhecer os mecanismos que presidem a aquisição (processo instintivo) e a aprendizagem (processo intencional) da língua, e igualmente o ensino.

Ainda nestes aspectos específicos, as teorias estritamente lingüísticas serão insuficientes para orientar os homens na compreensão do fenômeno da linguagem. Não será possível uma explicação da mesma como sendo um fenômeno autônomo. A comunicação e a elaboração de raciocínios complexos dizem respeito, sim, à faculdade autônoma da linguagem articulada, mas esta última está inextrincavelmente ligada a fatores culturais, sociais, psicológicos, antropológicos e históricos, como se viu acima.


PRAGMATISMO

“To understand the matters which Descartes wanted to understand - the superiority of the New Science to Aristotle, the relation between this science and mathematics, common sence, theology, and morality - we need to turn outward rather than inward, toward the social context of justification rather than to the relations between inner representations. This attitude has been encouraged in recent decades by many philosophical developments, particularly those stemming from Wittgenstein’s Philosophical Investigations and from Khun’s Structure of Scientific Revolutions”.
(Richard Rorty, 1980:210)

Cumpre, antes de tratar especificamente do pramatismo lingüístico, tecer algumas considerações genéricas sobre o pragmatismo como atitude filosófica.

Como sugerido no excerto acima, de Rorty, o pragmatismo não é uma teoria nem propriamente uma escola metodológica. Trata-se de uma atitude em face do problema do conhecimento; de uma alternativa ao ceticismo e à tradição clássica; de uma abordagem que utilizará as metodologias disponíveis e que possam ser úteis ao sujeito cognoscente, isto é, ao “conhecedor”, a seu critério e de acordo com a sua visão de mundo. Embora o pragmatismo considere o conhecimento como sendo arracional (insuscetível de ser racionalizado), reconhece a possibilidade de o sujeito cognoscente poder fazer escolhas racionais com base na maior ou menor utilidade para a hipótese em questão. Assim, por exemplo, diante de duas teorias, não buscará saber qual é a verdadeira ou mais consistente do ponto de vista de uma racionalidade a elas imanente. Através de uma avaliação personalista, calculará a utilidade - também personalista - de escolher entre uma e outra. A verdade de uma proposicão estará, então, condicionada à sua verificabilidade, ou seja, dependerá de sua conseqüência prática e do seu valor para a vida concreta. Se uma teoria diz que a criança aprende por imitação, é possível que ela não seja de todo verdadeira, mas será possível verificar que uma das estratégias utilizadas pela criança é realmente a imitação (Brown, 1994, p.38). Se uma teoria sustenta que há uma idade crítica (“Critical Period Hypothesis”), para se aprender bem a própria língua materna não será difícil verificar que, até certo ponto, a afirmação tem sentido (Brown, op.cit., pp. 52/53; e Lightbown & Spada, 1993, p. 11).

Embora ao longo do tempo as críticas às atitudes especulativas de busca de verdades “a priori” já se tivessem corporificado, a discussão sempre se deu em torno de se saber se a fundamentação racional do conhecimento era possível ou não, tendo a resposta positiva a essa questão prevalecido. Filósofos de todas as épocas se empenharam em apresentar argumentos e teorias contra e a favor, sem, contudo, rejeitar integralmente o pressuposto da “necessidade” de fundamentação racional do conhecimento. Daí, o campo propício à expansão das tendências aos estudos pragmáticos, ensaiados pelos utilitaristas ingleses, porém consolidados pela filosofia norte-americana.

As origens próximas do pragmatismo, portanto, vão ser encontradas na filosofia estadounidense da virada deste século, particularmente na filosofia de William James e John Dewey, os quais se empenharam em trazer para a área das ciências humanas os métodos experimentais. Seria suficente assinalar que William James foi o primeiro norte-americano a organizar um laboratório de psicologia experimental; e que John Dewey criou a primeira escola experimental da história da Educação.

Como nos informa William James, a palavra pragmatismo (do grego pragma = ação) foi introduzida pela primeira vez em filosofia por Charles Peirce, em 1878. Segundo esse autor, Peirce afirmava que nossas crenças nada mais são do que regras de ação, e que o importante é determinar que condutas o pensamento está apto a produzir. Na visão de James, todavia, embora em toda a história do pensamento sejam identificadas abordagens de cunho pragmático, tais abordagens se deram de forma fragmentária, sem que seus propugnadores abandonassem de todo concepcões tradicionais: (1974, p. 12)

“O pragmatista volta as costas resolutamente e de uma vez por todas a uma série de hábitos inveterados, caros aos filósofos profissionais. Afasta-se da abstração e da insuficiência, das soluções verbais, das más razões a priori, dos princípios firmados, dos sistemas fechados, com pretensões ao absoluto e às origens. Volta-se para o concreto e o adequado, para os fatos, a ação e o poder. O que significa o reinado do temperamento empírico e o descrédito sem rebuços do temperamento racionalista. O que significa ar livre e possibilidades da natureza, em contraposição ao dogma, à artificialidade e à pretensão de finalidade na verdade”.

Essas tendências pragmatistas se consolidam em meio às tentativas de oferecer alternativas à visão de David Hume, cético quanto a qualquer possibilidade de fundamentação racional do conhecimento científico, isto é, qualquer tentativa de fundamentação “a priori” com a pretensão de estabelecer nexo teórico entre fins e meios. Nas palavras de Watkins (1984), este ceticismo de Hume pode ser descrito como sendo: a) “antiapriorista”; b) “experiencialista”; e c) “dedutivista”. Assim, o conhecimento, para Hume, não pode ser explicado “a priori”, depende da experiência do dia-a-dia, e não pode ser justificado por inferências indutivas, ou seja, por raciocínios que possam predizer o que vai acontecer a partir do já acontecido e das nossas percepções. Depois de extensos comentários sobre a contundência dos argumentos de David Hume, Watkins sintetiza de forma clara e precisa o ceticismo humeano: (1984: 3)

“Para que qualquer enunciado factual h constitua conhecimento, é preciso que existam premissas verdadeiras e que se reportem a h e das quais h é logicamente derivável. Mas se h fala do mundo exterior e e fala apenas de experiências perceptuais, h vai além de e, e, portanto, não pode ser logicamente derivada de e.”

Após descrever o que, para ele, é um resumo das principais estratégias tentadas por outros filósofos para responder ao ceticismo humano, e após mostrar as inconsistências de todas elas, Watkins elabora a alternativa do que chama de conjeturalismo, que procura distinguir do pragmatismo, ainda que vendo em ambos “semelhanças superficiais” quanto a propiciar meios para fazer escolhas racionais entre hipóteses radicalmente incertas ou mesmo contrárias. Para ele, a vantagem do seu conjeturalismo - na qual residiria a diferença crucial - é a de que as escolhas são presididas por propósitos “cognitivos”, enquanto no pragmatismo tais escolhas teriam propósitos não-cognitivos, entendendo ele por propósito “cognitivo”, por exemplo, a busca da verdade, a maximização da probabilidade, um entendimento mais profundo ou uma melhor explicação, e não, por exemplo (e aí vai uma crítica mordaz aos pragmatistas assumidos), evitar problemas com as autoridades ou causar impressão de profundidade e erudição).

A expressão “evitar problemas com as autoridades” pode ser associada à referência que o autor faz ao célebre exemplo do apostador de Pascal (apresentado por Watkins como um caso típico de atitude pragmatista). Extremamente religioso, Pascal valeu-se desta fórmula para demonstrar que acreditar em Deus era, antes de tudo, o melhor para o homem, independentemente de Deus existir ou não. Não se tratava da crença em si, mas na “vantagem” pessoal de acreditar. Assim, se eu aposto que Deus não existe, só há duas possibilidades: se Deus não existir, eu ganho tudo; mas se Deus existir, eu perco tudo, quer dizer, estou condenado ao inferno; se, entretanto, eu aposto que Deus existe, também só há duas possibilidades: se Deus existir, eu ganho tudo; mas se Deus não existir eu nada perco.

Importante observar que, apesar das críticas aos pragmatistas, na essência Watkins não se situa muito longe deles, embora as idéias de “busca da verdade e de entendimento mais profundo”, presentes no seu conjeturalismo, de certa forma reponham a crença na possibilidade de o conhecimento científico poder ser justificado racionalmente.

No que tange especificamente ao pragmatismo linguístico, na forma como posteriormente se consolidou, releva citar o “segundo” Wittgenstein (como se sabe, depois de se desiludir com a filosofia por um longo período, Wittgenstein mudou completamente a sua visão de mundo, voltando às reflexões filosóficas como se fosse um outro Wittgenstein, inclusive repudiando muito do que ele próprio escrevera anteriormente). Conforme assinalou Silva (l993:12), é na filosofia do segundo Wittgenstein que tem origem o antifundacionismo (a negação da possibilidade de fundamentação racional do conhecimento), sendo “o primeiro filósofo a propor uma estratégia indiferente à fundamentação da gênese do conhecimento”. Com efeito, parece ter sido sobretudo depois que se dedicou durante anos ao ensino de crianças (coincidentemente na mesma linha de preocupação educacional de John Dewey) que Wittgenstein reconsiderou as formulações que fizera sobre como funciona a linguagem humana. O primeiro Wittgenstein enveredara, no Tratactus Logico-Philosophicus, pelo caminho movediço tradicional de tentar estabelecer, abstratamente, paralelo entre o pensamento e a linguagem. Aderira à teoria segundo a qual a linguagem humana se estrutura de acordo com padrões dados, “a priori”, na mente; e que é possível, em conseqüência, ir além dos sentidos e da experiência para compreender o mundo e explicá-lo. O segundo Wittgenstein parece ter então concluído pela pouca utilidade de se buscar identificar nexo lógico entre as proposições, consideradas em si mesmas, e a pretensa realidade representada por elas; ou seja, entre a forma e o sentido, entre o significante e o significado. Em suma, não passaria de um mero exercício de semântica formal, sem nenhuma utilidade prática. Como assinala o próprio filósofo em Philosophical Investigations (l953), depois de reconhecer explicitamente os “graves erros” que publicara no primeiro livro (1953: § 65):

“§ 65 ... For someone might object against me: “you take the easy way out! You talk about all sorts of language -, but have nowhere said what the essence of a language-game, and hence of language, is: what is common to all these activities, and what makes them into language or parts of language. So, you let yourself off the very part of the investigation that once gave yourself most headache, the part about the general form of the propositions and of language”. And this is true. Instead of producing something common to all that we call language, I am saying that these phenomena have no one thing in common which makes us use the same word for all , but that they are related to one another in many different ways. And it is because of this relationship, or these relationships, that we call them all “language”.

Para o segundo Wittgenstein, destarte, não mais será importante especular sobre as propriedades intrínsecas das proposições. Importará saber, a partir da observação empírica, como funcionam o que rotulou de “jogos da linguagem”, vistos por ele como parte de uma atividade, ou - como também chamaria - “formas de vida”.

Contemporaneamente, o pragmatismo tem seguido junto a outras tendências na busca de estratégias que centrem no sujeito cognoscente, e não no objeto do conhecimento, a possibilidade de fazer escolhas racionais. E este parece ser o desafio aos filósofos da atualidade. Richard Rorty (1980), apontando esses “desenvolvimentos filosóficos” recentes, e após erigir Wittgenstein, Heidegger e Dewey como heróis do seu Philosophy and the Mirror of Nature, posiciona-se, junto com os chamados filósofos analistas, ao lado dos pragmatistas, diferentemente de Watkins, numa atitude resolutamente anti-fundacionista, sendo relevante assinalar a importância que Rorty dá à linguagem, pois, apesar de se referir episodicamente à linguagem em várias partes do livro, particularmente no capítulo IV, dedica um capítulo inteiro, o VI (“Epistemology and Philosophy of Language”), às intrincadas questões da linguagem humana e suas necessárias conexões com as indagações sobre o conhecimento em geral.


PRAGMÁTICA LINGÜÍSTICA

A pragmática lingüística, que, pode-se dizer, é a materialização, no estudo de línguas e na comunicação, do pragmatismo lingüístico, tem tido uma carreira atribulada desde que começou a firmar-se no início da década de 1970, embora, como nos dão conta Akmajian e outros (1995, p. 339), tenha sido Charles Morris quem, em 1938, propôs a divisão tricotômica do estudo da língua em: sintaxe, semântica e pragmática, tendo definido esta última por “the study of the relation of signs to interpreters”, e, mais tarde, por “the relation of signs to their users”.

O interesse pelos estudos pragmáticos e o seu desenvolvimento devem-se grandemente a estudos realizados inicialmente por filósofos, como já referi. Nada obstante, como se verá adiante, ainda hoje não se tem uma delimitação clara do campo de investigação da pragmática. Trata-se, sem dúvida, de um ramo da lingüística, mais precisamente, da lingüística aplicada, o qual enfoca prioritariamente a linguagem oral, e ainda assim dentro dos limites em que ela (a pragmática) se encontra com as disciplinas afins acima aludidas. Interessa-se pela linguagem como forma de comunicação humana, sendo relevantes aqui os chamados jogos da linguagem e as formas de vida de Wittgenstein, como num jogo em que as regras não estão explícitas mas o jogador as vai aprendendo - e criando novas regras - à medida que o jogo se desenvolve.

Embora muitas definições de pragmática tenham sido formuladas, as que se seguem são suficientes para dar uma idéia do conceito. Primeiramente a de Richards et al. (l992, p. 284) no seu Dictionary of Language Teaching & Applied Linguistics:

“pragmatics: the study of the use of language in communication, particularly the relationships between sentences and the contexts and situations in which they are used. Pragmatics includes the study of:
a) how the interpretation and use of UTTERANCES depend on knowledge of the real world
b) how apeakers use and understand SPEECH ACTS
c) how the structure of sentences is influenced by the relationship between the speaker and the hearer.
Pragmatics is sometimes contrasted with SEMANTICS, which deals with meaning without reference to the users and communicative functions of sentences.”

E a definição de Rod Ellis (l994, p. 23):

“Pragmatics is the study of how language is used in communication. It covers a wide range of phenomena including deixis ( i.e. the ways in which language encodes features of the context of utterance), conversational implicature and pressuposition (i.e. the way language is used to convey meanings that are not actually encoded linguistically), illocutionary acts (i.e. the use of language to perform speech acts such as stating, questioning, and directing), conversational structure (i.e. the way in which conversations are organized across turns), and repair (i.e. the conversational work undertaken to deal with miscommunications of various kinds).”

E a definição de Akmajian et al. (1995:339):

“the study of language use in relation to language structure and context of use. As such, the sudy of pragmatica straddles the boundary between language and the world.”

Das definições acima releva realçar os conceitos de “language in use” (língua em uso), “utterance” (expressão oral, emissão), e “speech act” (ato da fala). O primeiro, “language in use” significa que não se está considerando a língua em abstrato; o segundo, “utterance”, é usado para representar uma unidade de discurso, não correspondendo necessariamente à sentença (período) tradicional dos gramáticos, a qual tem que obedecer a critérios lógicos de correção e aceitabilidade. O terceiro, “speech act”, associa-se ao que se passou a chamar de teoria dos atos da fala (“speech-act theory”), que estuda as unidades de discurso (“utterances”) sob dois aspectos: o literal (ou proposicional), e o prático, isto é, o efeito provocado no comportamento da pessoa a quem são dirigidas. Em resumo, cumpre distinguir entre período (unidade de estudo dos gramáticos tradicionais) e expressão oral / emissão (unidade de estudo dos lingüistas pragmáticos). Assim, uma expressão oral / emissão pode consistir de apenas uma palavra ou pequena frase, como “Hi!”, “Good morning!”, etc.), ou mesmo coincidir com um período, em que se distinga(m) a(s) oração(ões) e os diferentes termos da(s) mesma(s); e ainda: tais unidades de discurso (expressões orais / emissões) não apresentam formas pré-estabelecidas, nem regras de correção e aceitabilidade, como no caso dos períodos e orações. O trabalho dos lingüistas pragmáticos será, portanto, o de identificar “regularidades” em face da maior ou menor freqüência com que elas ocorrem.

Embora a pragmática lingüística já tivesse sido delineada nos estudos de Wittgenstein desde a década de 1950, só recentemente passou a constituir-se como um campo de investigação autônomo. Conforme nos informam Leech & Thomas (1990:174):

“ [...] pragmatics was born out of the abstractions of philosophy rather than of the descriptive needs of linguistics (and this, it will be argued below, accounts in part for the difficulties which were later experienced by linguists when they tried to apply pragmatic models to the analysis of stretches of naturally-occuring discourse). Even when pragmatics started to become important for linguistics, it was again, at least in the English-speaking world, informed by the work of philosophers”.

Os autores estão se referindo aos filósofos do chamado Grupo de Oxford, cujo interesse teórico preponderante é o lingüístico. Curioso notar que se atêm ao mundo dos anglófonos, e dão destaque ao trabalho de Jonn Austin, J. R. Searle e H. P. Grice. De fato, esses filósofos (houve mesmo quem negasse essa condição a Austin, alegando que ele não fazia filosofia e sim, de um ponto de vista empírico, ciência da linguagem) são as fontes inspiradoras da pragmática lingüística na forma como ela se desenvolveu na década de 1970. É neles que se originam as noções de força performativa (“performative force” de Austin), da teoria dos atos da fala (“speech-act theory” de Searle), e da distinção “o que é dito”/ “o que é significado” (“what is said”/ “what is meant”, de Grice).

No campo especificamente lingüístico, a pragmática vai originar correntes de estudo diversas: a Lingüística Aplicada, a Análise do Discurso, a Análise do Erro etc; e novas teorias de aquisição/aprendizagem/ensino de línguas, não só da língua nativa, mas principalmente da língua estrangeira/segunda língua). Assumem papel de relevo nesses estudos - no mundo anglófono - Malcolm Coulthard, M. A. K. Halliday, Ruqaia Hasan, Gillian Brown, George Yule, Jack C. Richards, Evelyn Hatch, Rod Ellis, Guy Cook, e outros listados na bibliografia ao final deste texto.




CONCLUSÃO

Diante da aparente impossibilidade de fundamentação racional do conhecimento científico. Ou mais precisamente, diante da contundência do ceticismo humano a respeito da sua natureza, as ciências humanas acabam por encontrar outras formas de buscar o seu próprio desenvolvimento, independentemente daquelas pretensamente fundadas em verdades a priori. Ao invés de se indagar sobre a essência do conhecimento, vai-se procurar, nos contextos onde se desenvolvem as atividades humanas, observar as diferentes “formas de vida”, na expressão de Wittgenstein. Embora muitos filósofos acreditem na possibilidade de fundamentação racional do conhecimento, seja para justificar o conhecimento em geral, seja para justificar esta ou aquela teoria especificamente, a realidade não tem estado ao lado deles. Em conseqüência, as correntes filosóficas de tendências pragmatistas ganham terreno, embora os seus adeptos nem sempre utilizem este termo para designar a sua filosofia - como parece ser o caso de Watkins.

Quanto aos estudos especificamente lingüísticos, o pragmatismo parece ter provocado uma verdadeira revolução. A lingüística pura não consegue mais se impor como ciência teórica, como ocorria há apenas menos de três décadas atrás. E também não consegue delimitar claramente o seu campo de atuação. A pragmática lingüística (“pragmatics”) ganha cada vez mais terreno, incursionando na área de outras disciplinas, como a sociologia, a antropologia, a psicologia, e a própria filosofia da linguagem, e vice-versa. Na realidade, estudar lingüística aplicada é estudar, de forma relativamente difusa: semiótica, pragmática, análise do discurso, sociolingüística, psicologia lingüística, antropologia lingüística e mesmo filosofia lingüística.

De qualquer modo, apesar dessa aparente confusão de objeto, cumpre reconhecer que, também no terreno da linguagem, o conhecimento humano parece estar dando um grande salto.

No estudo de línguas, a atitude pragmática, na forma como explicada acima, tem-se revelado um instrumento de grande valia, não só para professores como para aprendizes, seja no estudo da aquisição de língua materna, seja na aprendizagem de LE ou L2. No nosso caso, trata-se do ‘ensino / aprendizagem do inglês como língua estrangeira para falantes do português do Brasil, no Brasil. A atitude pragmática é crucial.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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WITTGENSTEIN, Ludwig. Philosophical Investigations. l953.

Estágios do desenvolvimento da linguagem.

Por que os bebês não nascem falando? Segundo Pinker (2002), os bebês humanos nascem antes de seus cérebros estarem completamente formados. Se os seres humanos permanecessem na barriga da mãe por um período proporcional àquele de outros primatas, nasceriam aos dezoito meses, exatamente a idade na qual os bebês começam a falar, portanto, nasceriam falando.
O cérebro do bebê muda consideravelmente depois do nascimento. Nesse momento, os neurônios já estão formados e já migraram para as suas posições no cérebro, mas o tamanho da cabeça, o peso do cérebro e a espessura do córtex cerebral, onde se localizam as sinapses, continuam a aumentar no primeiro ano de vida. Conexões a longa distância não se completam antes do nono mês e a bainha de mielina continua se adensando durante toda a infância. As sinapses aumentam significativamente entre o nono e o vigésimo quarto mês, a ponto de terem 50% a mais de sinapses que os adultos. A atividade metabólica atinge níveis adultos entre o nono e o décimo mês, mas continuam aumentando até os quatro anos. O cérebro também perde material neural nessa fase. Um enorme número de neurônios morre ainda na barriga da mãe, essa perda continua nos dois primeiros anos e só se estabiliza aos sete anos. As sinapses também diminuem a partir dos dois anos até a adolescência quando a atividade metabólica se equilibra com a do adulto. Dessa forma, pode ser que a aquisição da linguagem dependa de uma certa maturação cerebral e que as fases de balbucio, primeiras palavras e aquisição de gramática exijam níveis mínimos de tamanho cerebral, de conexões a longa distância e de sinapses, particularmente nas regiões responsáveis pela linguagem. (PINKER, 2002)
Balbuciando

É comum dividir o estágio inicial da aquisição de linguagem em duas fases: pré-lingüística e lingüística. No estágio pré-lingüístico, a capacidade lingüística da criança desenvolve-se sem qualquer produção lingüística identificável. Sem levar em conta as mudanças biológicas que facilitam o desenvolvimento lingüístico e ocorrem nos primeiros meses de vida da criança, é o balbuciar dos bebês de aproximadamente seis meses que sinaliza o começo da aquisição da linguagem. Esse período é tipicamente descrito como pré-lingüístico porque os sons produzidos não são associados a nenhum significado lingüístico. O estágio dos balbucios é marcado por uma variedade de sons que muitas vezes são usados em alguma das línguas do mundo, embora muitas vezes não sejam a língua que a criança irá, posteriormente, falar. O significado dessa observação não é claro. Alguns, como Allport (1924 in STILLINGS, 1987), afirmam que os balbucios sinalizam o começo da habilidade de comunicação lingüística da criança. Nesse estágio, os sons oferecem o repertório no qual a criança irá identificar os fonemas da sua língua. Por outro lado, McNeil (1970 in STILINGS, 1987) ressalta que a ordem que os sons aparecem durante o período de balbucio é, geralmente, contrária àquela que eles aparecem nas primeiras palavras da criança. Por exemplo, consoantes posteriores e vogais anteriores, como [k], [g] e [i], aparecem cedo nos balbucios das crianças, mas tarde no seu desenvolvimento fonológico.
Primeiras palavras
Segundo Stillings (1987), o primeiro estágio verdadeiramente lingüístico da criança parece ser o estágio de uma palavra. Nesse estágio, que aparece a poucos meses delas completarem um ano, as crianças produzem suas primeiras palavras. Durante esse estágio, as suas falas se limitam a uma palavra, que são pronunciadas de maneira um pouco diferente da dos adultos. Muitos fatores contribuem para essa pronúncia não usual: alguns sons parecem estar fora da escala auditiva das crianças, por dependerem da maturação de alguns nervos. Sons que são difíceis para a criança detectar, tornam-se difíceis para elas aprenderem. Além disso, alguns sons parecem ter uma articulação difícil para as crianças. Por exemplo, é comum ver crianças que possuem desenvolvimento lingüístico adiantado mas não conseguem pronunciar o [r]. Algumas vezes, sons fáceis podem se tornar difíceis na presença de outros sons. Por exemplo, crianças no estágio de uma palavra freqüentemente omitem o som das consoantes finais.
Crianças nessa fase, além de pronunciar as palavras de maneira diferente também querem dizer coisas diferentes com elas. Muitos pesquisadores perceberam que as crianças parecem expressar significados complexos com suas expressões curtas. É como se suas sentenças de uma palavra representassem um pensamento completo. Esse uso da linguagem indica que o desenvolvimento conceitual da criança tende a ultrapassar seu desenvolvimento lingüístico nos primeiros estágios da aquisição. Nós devemos traçar essa conclusão com cuidado, no entanto, já que julgamentos sobre o que as crianças querem disser nos seus primeiros estágios de desenvolvimento são difíceis de fazer.
Acessando essa e outras propriedades do sistema semântico da criança, nós temos que considerar a questão da natureza do significado. Em particular, é importante esclarecer que tipo de conhecimento a criança deve dominar durante o processo de aquisição de linguagem. A distinção de Frege (STILLINGS, 1987) entre sentido e referência é relevante; nós podemos explorar como as crianças formam e organizam conceitos e como elas aprendem a referenciá-los. Clark (1973 in SYILLINGS, 1987) e Anglin (1977 in STILLINGS, 1987) mostraram que as primeiras referências das crianças partem sistematicamente em duas direções particularmente opostas daquelas da comunidade falante dos adultos. Em alguns casos, as crianças usam as palavras para referenciar inapropriadamente um vasto número de objetos. Por exemplo, carro poder ser usado para referenciar um objeto grande que se move ou qualquer objeto que serve para fazer transporte. Em outros casos, crianças usam as palavras de uma maneira extremamente restrita, criando um drástico limite para um conjunto de referenciais permitidos. Por exemplo, uma criança usa a palavra cachorro para designar apenas o cachorro da família.
Esse superextensão e subextensão são bem freqüentes nos primeiros diálogos das crianças, mas decrescem quando seu léxico se torna similar ao dos adultos. A explicação de Clark (1973 in STILLINGS, 1987) para a aquisição semântica envolve, crucialmente, a hipótese de que as crianças aprendem o significado de uma palavra através da união de várias características semânticas que coletivamente constituem o conceito expresso pelo termo. De fato, essa hipótese sobre o desenvolvimento léxico vê a criança reunindo um banco de dados onde as características semânticas primitivas são associadas em grupo a um item lexical. Se uma criança, erradamente, associa muitas ou poucas características a um termo, o conceito resultante estará excessivamente generalizado ou excessivamente restrito, respectivamente, a superextensão e subextensão. Apesar dos detalhes da explicação serem controversos, a idéia de que as crianças constroem conceitos através de algum tipo de conceitual primitivo é mais aceitável. Como no caso da aquisição fonológica, existem evidências de que as crianças adquirem uma representação abstrata durante o aprendizado da sua língua, mesmo nos primeiros estágios de aquisição.
Dessa forma, mesmo que a primeira hipótese sobre aquisição de linguagem seja de que a criança simplesmente adquire sons e significados, a investigação das primeiras palavras da criança indica que o conhecimento adquirido por aquelas de um ano de idade toma a forma de um sistema rico de regras e representações. Como esses sistemas abstratos foram deduzidas, principalmente, através das experiências das crianças na comunidade lingüística, as diferenças entre a gramática da criança e a do adulto são compreensíveis.
O surgimento da sintaxe
A partir do estágio de duas palavras é possível examinar o desenvolvimento sintático, mesmo que seja de maneira rudimentar.
Uma hipótese popular sobre os padrões das expressões de duas palavras (BRAINE, 1963 in STILLINGS, 1987) diz que as crianças organizam seu vocabulário em duas classes lexicais chamadas de pivô e aberta. Assim, nesse estágio a fala da criança seria composta de duas palavras da classe aberta ou uma palavra da classe aberta e uma da classe pivô, já que no estágio de uma palavra elas utilizam palavras da classe aberta. Essa subdivisão dependerá da fala de cada criança, desse modo toda palavra usada sozinha pertencerá a classe aberta.
O ponto é que justaposição de palavras não implica relação semântica entre ela. Essas relações semânticas tendem a aparecer com o tempo, quando as combinações de palavras aumentarem. A primeira relação a aparecer é a de modificador-modificado (mais biscoito) e a de agente-ação (cachorro come). Essa relação semântica (algumas vezes chamada de relação temática) aparentemente começa no estágio de duas palavras. Alguns pesquisadores como Bloom (1970 in STILLINGS, 1987) e Bowerman (1973 in STILLINGS, 1987), propuseram que a relação temática é a primeira relação estrutural importante que a criança usa para construir expressões com mais de uma palavra, sugerindo que a gramática da criança seria mais bem descrita através das funções das palavras. Em vez de sintagma nominal e verbal, falaríamos em agente e ação. Outra sugestão dada por Berwick e Weinberg (1983 in STILLINGS, 1987), é que a primeira gramática das crianças está baseada na suposição de que toda relação sintática está correlacionada com uma relação temática. Desse modo, nos primeiros estágios de desenvolvimento, toda seqüência nome-verbo seria interpretada como agente-ação e similarmente para outras seqüências sintáticas.
O sistema lingüístico da criança nessa fase também é diferente do adulto. Além das diferenças de pronúncia e significado, elas também possuem uma gramática diferente da deles. Obviamente produzem sentenças mais breves; além da maioria delas serem sentenças inovadoras, não sendo apenas imitações da dos adultos.

Além do estágio de duas palavras
Embora os estágios de uma e duas palavras não tenham um início e um final determinado, existem características confiáveis para identificá-los. A partir desse ponto, no entanto, isso não será mais possível.
À medida que o MLU (média de palavras por expressão) aumenta, a complexidade da gramática que gerencia essas palavras torna-se mais complexas, no entanto, continua sendo deficiente em relação à dos adultos (crianças de dois e três anos). O discurso das crianças dessa idade é descrito como discurso telegráfico, omitindo pequenas palavras como determinantes e preposições. Além disso, existem problemas com as estruturas que não seguem uma regra geral, por exemplo, é comum as crianças dizerem eu trazi, generalizando a regra dos verbos regulares. O interessante é que antes de cometerem este erro, elas passam por uma fase em que usam o verbo adequadamente. Uma explicação para essa regressão é que no início elas simplesmente imitam a formação do verbo, mais tarde, no entanto, após aprender a regra de formação, elas simplesmente a aplicam para todos os verbos. Porém, com o passar do tempo acabam aprendendo a forma certa, mesmo que seja através da memorização.
Próximas fases de desenvolvimento
Após o estágio de duas palavras as crianças expandem seu vocabulário, aprendem as regras de construção (negativa, passiva, etc.) presentes na língua, aprendendo seu sistema fonológico e morfológico, aperfeiçoando sua pronúncia, e, geralmente, alcançando a convenção adulta de maneira bem rápida (entre os seis e sete anos), mesmo que demorem mais a aprender estruturas mais complexas, como a voz passiva.
O ponto crítico
Todos nós sabemos que é muito mais fácil aprender uma segunda língua na infância. A maioria dos adultos nunca chega a dominar uma língua estrangeira, sobretudo sua fonologia, o que gera o inevitável sotaque. Segundo Pinker (2002), "existem diferenças individuais, que dependem do esforço, qualidade de ensino e simples talento, mas, ainda assim e mesmo nas melhores circunstâncias, parece haver uma barreira intransponível para qualquer adulto."
Dados mais sistemáticos nos são fornecidos pela psicóloga Elissa Newport e seus colegas (PINKER, 2002). Eles testaram estudantes e professores da Universidade de Illinois nascidos na Coréia e na China que já viviam há pelo menos dez anos nos Estados Unidos. Aqueles que tinham migrado entre os 3 e 7 anos, alcançaram o desempenho dos americanos nativos. A partir desse ponto, quanto mais velho, pior era a assimilação da nova língua.
Quanto a língua materna, são raros os casos de pessoas que chegam a puberdade sem tê-la adquirido. Até os deficientes auditivos tem mais facilidade de aprender a língua de sinais antes da fase adulta. No caso de crianças selvagens encontradas na floresta ou em lares de pais psicóticos, elas podem aprender a se comunicar de forma clara ou não, dependendo da idade em que foram encontradas.
Resumindo, a aquisição de linguagem é certa até os seis anos, fica comprometida depois dessa idade até a puberdade e é rara depois disso. Uma explicação plausível seria as alterações maturativas que ocorrem no cérebro, tais como o declínio da atividade metabólica e do número de neurônios durante o início da vida escolar, e a estagnação no nível mais baixo do número de sinapses e da atividade metabólica por volta da puberdade.
Pinker (2002, p.374-5) cria uma metáfora interessante para tentar explicar essa perda de funcionalidade cerebral:
Imagine que o que os genes controlam não é uma fábrica mandando peças para o mundo, mas a oficina de uma companhia teatral de poucos recursos para a qual vários cenários, adereços e materiais retornam periodicamente a fim de serem desmanchados e remontados para a próxima produção. A qualquer hora, diferentes engenhocas podem ser produzidas na oficina, dependendo da necessidade do momento. A ilustração biológica mais óbvia é a metamorfose. [...] Mesmo nos humanos, o reflexo de sucção desaparece, os dentes nascem duas vezes e uma coleção de característica sexuais secundárias emergem dentro de um cronograma maturacional. Agora, complete a mudança de ponto de vista. Pense na metamorfose e nas mudanças maturacionais não como exceção mas como regra. Os genes, moldados pela seleção natural, controlam corpos ao longo de toda a vida; seus propósitos perduram enquanto forem úteis, nem antes nem depois. A razão para termos braços aos sessenta anos não é o fato de eles estarem ali desde o nascimento, mas porque braços são tão úteis para um sexagenário quanto o são para um bebê.
Segundo ele, nós não devemos perguntar "Por que a capacidade de aprender desaparece?", mas sim "Quando a capacidade de aprender é necessária?". Logo, ela deve aparecer o mais cedo possível, para podermos usufruí-la o maior tempo possível, no entanto, ela é extremamente útil apenas uma vez, depois passa a ser supérflua. "Assim, a aquisição lingüística deve ser como as outras funções biológicas. A inépcia lingüística de turistas e estudantes talvez seja o preço a pagar pela genialidade lingüística que demonstramos quando bebês, assim como a decrepitude da idade é o preço pelo vigor da juventude." (PINKER, 2002, p. 378)

É falando que a gente se entende!!

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Frequentemente, os pais recorrerem à consulta de pediatria ou de psicologia pela imaturidade da linguagem oral, considerando motivo de preocupação os filhos não falarem corretamente: “ele fala muito mal…”, “ele fala pouco e o que diz não se entende…”.
A linguagem oral surge na relação com o outro, através do uso e da necessidade de comunicar. Com alguma frequência, e pela vontade de atender ao pedido da criança, os pais oferecem imediatamente o que o filho aponta, não exigindo que se expressem corretamente, perpetuando uma interação que não exige a comunicação oral correta e frequente.
O treino melhora a função e por isso deve ser sempre exigido à criança que verbalize as suas necessidades e se o faz incorretamente os cuidadores devem insistir na correção do vocabulário; se a criança aponta para o copo e diz “agui” deverá estimulá-la a dizer “o João quer água/vai beber água…” será uma boa opção. Da mesma forma, sempre que a criança utiliza palavras infantilizadas bem como diminutivos, o adulto deve sempre corrigir permitindo a observação dos movimentos da sua boca. Todas as palavras inventadas devem ser evitadas na comunicação mesmo quando a criança as verbaliza enquanto brinca sozinha.A estimulação da linguagem deve ser sempre espontânea, associada a situações do dia-a-dia e acompanhadas de movimentos expressivos que facilitem a compreensão. Cada progresso acompanhado de elogio é um forte estímulo à competência linguística.
Quando a criança entra para a escola primária, o grupo tem um papel preponderante no enriquecimento do vocabulário; frequentemente observa-se um desenvolvimento considerável na sua capacidade expressiva.

A EVOLUÇÃO DA LINGUAGEM INFANTIL

Podemos dividir a evolução em dois grupos, que podem ser chamados egocêntrico e socializado. Ao pronunciar as frases do primeiro grupo, a criança não se preocupa em saber a quem fala e nem se é escutada. Ela fala a si mesma pelo prazer de associar qualquer coisa à sua ação imediata .Esta linguagem é egocêntrica, em primeiro lugar porque a criança não fala a não ser de si mesma, e, em segundo lugar, porque não procura colocar – se no ponto de vista do interlocutor.

Então, durante os primeiros dias de nascido, o bebê demanda a satisfação de suas necessidades básicas através do grito. Da análise do grito infantil encontra-se uma grande predominância, principalmente nos primeiros dias após o nascimento, de vogais, especialmente a vogal “A”. Mais tarde aparecem as consonantes e as combinações de consoantes e vogais. As vocalizações nos primeiros anos de vida funcionam como um jogo ou brincadeira vocal.

Aos dois meses de idade, a criança conhece e utiliza todos os sons lingüísticos que o ser humano consegue emitir. Alguns desses sons serão reforçados pelo ambiente cultural e irão compor os sons da língua falada deste ambiente. Os demais sons, não reforçados, serão esquecidos.

A partir do quarto ou quinto mês, aparece o balbucio. Nessa fase, os sons já expressam algum sentido e se caracterizam pela repetição de uma mesma sílaba várias vezes seguidas: ba-bá; má-má, bu-bu. O balbucio não é uma verdadeira forma de linguagem, uma vez que não possui o propósito de comunicação, mas uma atividade lúdica no nível sensório-motor. O balbucio, geralmente, compõe-se de sons labiais, porque a criança repete os mesmos movimentos. O jogo vocal, repetitivo, que mais parece uma brincadeira que a criança faz com os sons, chama-se ecolalia. A ecolalia trata-se apenas da repetição de sílabas ou de palavras. A criança repete-as pelo prazer de falar, sem nenhuma preocupação de dirigir-se a alguém, nem mesmo, às vezes, de pronunciar palavras que tenham sentido.

O período pré-lingüístico se estende, aproximadamente, até o 10º mês de idade. É caracterizado, principalmente, por vocalizações incompreensíveis e, a partir dos nove meses de idade, por algumas palavras tão mal formuladas que dificilmente são compreendidas. Nesta fase pré-lingüística, as vocalizações não possuem ainda função representativa, ou seja, uma relação objetiva entre os sons, conceitos e objetos. Com o aparecimento das primeiras palavras esta função começa a se estabelecer.

Dos 10 aos 12 meses, aproximadamente, há o aparecimento da palavra-frase: holofrase. Uma única palavra, geralmente um substituto, funciona como uma frase inteira. Se uma criança diz “mamãe” isto poderá significar: “Venha aqui mamãe”. A palavra-frase ao mesmo tempo é o sujeito e predicado. Os outros termos gramaticais aparecem no gesto e na expressão fisionômica da criança. É a chamada fala sincrética, em que o comprimento médio de uma emissão é de um morfema.

É importante observar que a criança, ao utilizar suas primeiras palavras, ou ao compreender as primeiras ordens, ainda não possui uma referência objetal, ou seja, uma relação exata entre a palavra e o objeto. O significado da palavra pode depender da situação em que se encontra a criança ou de quem pronuncia as palavras. Por exemplo, algumas crianças pequenas só entendem o que a mãe diz com determinados gestos e entonações. Assim, tanto a palavra dita pela criança ou ouvida, de início, não possuem uma referência objetal estável, pois a palavra ainda não se separa dos gestos, das entonações, das ações. Gradativamente, a referência objetal vai- se desenvolvendo.

Aos 15/18 meses, provavelmente, ocorre o verdadeiro início do desenvolvimento da linguagem, quando a criança passa a designar nomes para os objetos mais familiares como: mamãe, papai, nenê. Primeiro denominará as suas necessidades mais proeminentes e seus desejos mais veementes. Dará, depois, denominação às coisas do ambiente que a cerca. Em suas frases já aparecerão, na maioria das vezes, duas palavras, dois substantivos: por exemplo, “Mamãe, bola” (mamãe eu quero a bola). Aparecem nas suas frases os primeiros adjetivos. Isto faz com que a criança conquiste, através da palavra, um mundo novo de objetos que não está necessariamente, sob sua percepção visual imediata.

Essas primeiras sentenças de duas ou três palavras são versões telegráficas em que as preposições, conjunções, artigos, verbos auxiliares e as flexões são omitidos. A criança omite tais palavras, mas a ordem e o sentido da sentença são preservados, indicando o conhecimento de relações gramaticais básicas do sujeito, predicado e objeto.

Aos 24 meses, a criança, provavelmente, já será capaz de observar e interpretar uma figura. Dirá, por exemplo, à vista de uma figura, “Mamãe au, au” (Mamãe olha o cachorro). Enfim a criança se localizará no mundo, ocorrendo, a partir de então, o uso dos pronomes pessoais na primeira pessoa, como eu, meu, minha. Já fará juízo apreciativo dizendo que uma coisa é boa, má, bonita, feia, etc., fará as primeiras perguntas: “Onde papai foi?” Dos 2 aos 3 anos de idade, há na linguagem infantil, o aparecimento de locuções, a criança compreenderá o porquê de certas colocações, fará perguntas; conseguirá definir alguns conceitos, usará proposições condicionais, etc. Da percepção de qualquer acontecimento, conseguirá tirar uma conclusão. A criança desdobrará a frase simples em períodos compostos por coordenação e, mais tarde, utilizará subordinações. A coordenação é anterior à subordinação por ser uma lógica de justaposição, e a subordinação exige um trabalho lógico maior. A criança, nesta fase, já poderá usar, em sua fala todas as categorias gramaticais, ainda que imprecisas.

Graças ao processo de socialização, a criança amplia o seu vocabulário, não só quanto ao número de palavras, mas também quanto à complexidade dos conceitos utilizados. E o que é mais importante nesse processo é que a linguagem, uma vez apropriada, se transforma não só em instrumento do pensamento como, também, em instrumento de regulação do próprio comportamento.

Vídeo interessante no You Tube.

Pessoal, no decorrer da minha pesquisa sobre o Desenvolvimento da linguagem, eu achei muita coisa legal na internet, inclusive este vídeo que posto aqui. Vale a pena conferir!

Esse vídeo foi postado em seis parte e elas estão discriminadas abaixo:

Em síntese....

O desenvolvimento da linguagem começa antes da criança nascer. Ainda dentro da barriga, o bebê já é capaz de responder a sons e sensações, vivenciadas pela mãe.

Os primeiros anos de vida são importantes para a criança que se comunica através do olhar, do choro, do sorriso, dos gestos, a mãe deve estar atenta a esses comportamentos para responder as necessidades da criança com estimulação adequada a cada caso.

Desta forma, através da linguagem a criança tem acesso, antes mesmo de aprender a falar, a valores, crenças e regras, adquirindo os conhecimentos de sua cultura. À medida que a criança se desenvolve, seu sistema sensorial incluindo a visão e audição se torna mais refinado e ela alcança um nível lingüístico e cognitivo mais elevado, enquanto seu campo de socialização se estende, principalmente quando ela entra para a escola e tem maior oportunidade de interação.

Para Cupello (2003), as fases do desenvolvimento da linguagem da criança iniciam no choro ao nascer, quando pela primeira vez o oxigênio entra nos pulmões do recém-nascido, e expansão dos pulmões lhe traz uma sensação desagradável e o bebê chora, são os gritos reflexos do nascimento. Estes gritos são os primeiros sons emitidos pelo recém-nato.

Apresenta também o choro indiferenciado de 0 a 2 semanas quando o choro do bebê se dá igual para qualquer tipo de estimulo e é a sua única resposta ao mundo, não há intenção, nem consciência, é um comportamento inato. Entre 2 e 3 semanas a criança apresenta o choro diferenciado, nesse período o choro do bebê ganha características de diferenciação, dependendo do estimulo ao qual a criança é exposta, e dependendo da necessidade que está sentindo. Há nessa época um repertório de choro que as mães já conseguem identificar como: choro de fome, choro de dor, choro de acordar etc.

Cupello (2003), relata também as etapas normais do desenvolvimento da linguagem da criança aos: 2 meses – reconhece a voz da mãe; 6 meses – balbucio; 7-9 meses - variedade maior de vocalizações; 10- 14 meses – primeiras palavras; 18 meses – produz cerca de 10 a 20 palavras; 2 anos e 6 meses – usa sentenças simples; 3 anos – faz uso de sentenças completas e se faz compreender; 4 anos – produz fonemas; 7 anos – aquisição completa.

Para a criança aprender a comunicar-se é necessário: um ambiente estimulante e rico em experiências; trocas verbais e não verbais, a família torna-se um apoio nesta fase de desenvolvimento, a criança recebe as primeiras e mais duradouras influências, passando ainda por um processo de imitação das palavras e até pequenas frases que ouve.

Atitudes que ajudam a criança a desenvolver a linguagem - Aproveite os momentos de maior atenção da criança para conversar com ela, usando palavras simples e frases curtas, falando de igual para igual; pronuncie corretamente as palavras, usando boa articulação e entonação, responda sempre as palavras ditas pelo seu filho de maneira correta e motivadora, sem infantilizar a sua fala; valorize o contato com seu filho: o toque, o olhar são manifestações essenciais; dê pequenas ordens, como “ pegue um copo para mamãe”, “jogue um beijo para vovó”, etc.

Biografia de Piaget

quarta-feira, 14 de abril de 2010


Piaget foi um menino prodígio. Interessou-se por história natural ainda em sua infância. Aos 11 anos de idade, publicou seu primeiro trabalho sobre a observação de um pardal albino. Esse breve estudo é considerado o inicio de sua brilhante carreira cientifica. Aos sábados, Piaget trabalhava gratuitamente no Museu de História Natural. Piaget freqüentou a Universidade de Neuchâtel, onde estudou biologia e filosofia. E recebeu seu doutorado em biologia em 1918, aos 22 anos de idade. Após formar-se, Piaget foi para Zurich, onde trabalhou como psicólogo experimental. Lá ele freqüentou aulas lecionadas por Jung e trabalhou como psiquiatra em uma clinica. Essas experiências influenciaram-no em seu trabalho. Ele passou a combinar a psicologia experimental – que é um estudo formal e sistemático – com métodos informais de psicologia: entrevistas, conversas e análises de pacientes.
Em 1919, Piaget mudou-se para a França onde foi convidado a trabalhar no laboratório de Alfred Binet, um famoso psicólogo infantil que desenvolveu testes de inteligência padronizados para crianças. Piaget notou que criançasfrancesas da mesma faixa etária cometiam erros semelhantes nesses testes e concluiu que o pensamento se desenvolve gradualmente. O ano de 1919 foi o marco em sua vida. Piaget iniciou seus estudos experimentais sobre a mente humana e começou a pesquisar também sobre o desenvolvimento das habilidades cognitivas. Seu conhecimento de biologia levou-o a enxergar odesenvolvimento cognitivo de uma criança como sendo uma evolução gradativa. Em 1921, Piaget voltou a Suíça e tornou-se diretor de estudos do Instituto J. J. Rousseau da Universidade de Genebra.
Lá ele iniciou o maior trabalho de sua vida, ao observar crianças brincando e registrar meticulosamente as palavras, ações e processos de raciocínio delas. Em 1923, Piaget casou-se com Valentine Châtenay com quem teve 3 filhos: Jacqueline(1925), Lucienne(1927) e Laurent (1931). As teorias de Piaget foram, em grande parte, baseadas em estudos e observações de seus filhos que ele realizou ao lado de sua esposa. Enquanto prosseguia com suas pesquisas e publicações de trabalhos, Piaget lecionou em diversas universidades européias. Registros revelam que ele foi o único suíço a ser convidado a lecionar na Universidade de Sorbonne (Paris, França), onde permaneceu de 1952 a 1963. Até a data de seu falecimento, Piaget fundou e dirigiu o Centro Internacional para Epistemologia Genética. Ao longo de sua brilhante carreira, Piaget escreveu mais de 75 livros e centenas de trabalhos científicos.
Pensamento predominante à época Até o início do século XX assumia-se que as crianças pensavam e raciocinavam da mesma maneira que os adultos. A crença da maior parte das sociedades era a de que qualquer diferença entre os processos cognitivos entre crianças e adultos era sobretudo de grau: os adultos eram superiores mentalmente, do mesmo modo que eram fisicamente maiores, mas os processos cognitivos básicos eram os mesmos ao longo da vida.
Piaget, a partir da observação cuidadosa de seus próprios filhos e de muitas outras crianças, concluiu que em muitas questões cruciais as crianças não pensam como os adultos. Por ainda lhes faltarem certas habilidades, a maneira de pensar é diferente, não somente em grau, como em classe.
A teoria de Piaget do desenvolvimento cognitivo é uma teoria de etapas, uma teoria que pressupõe que os seres humanos passam por uma série de mudanças ordenadas e previsíveis.