A EVOLUÇÃO DA LINGUAGEM INFANTIL

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Podemos dividir a evolução em dois grupos, que podem ser chamados egocêntrico e socializado. Ao pronunciar as frases do primeiro grupo, a criança não se preocupa em saber a quem fala e nem se é escutada. Ela fala a si mesma pelo prazer de associar qualquer coisa à sua ação imediata .Esta linguagem é egocêntrica, em primeiro lugar porque a criança não fala a não ser de si mesma, e, em segundo lugar, porque não procura colocar – se no ponto de vista do interlocutor.

Então, durante os primeiros dias de nascido, o bebê demanda a satisfação de suas necessidades básicas através do grito. Da análise do grito infantil encontra-se uma grande predominância, principalmente nos primeiros dias após o nascimento, de vogais, especialmente a vogal “A”. Mais tarde aparecem as consonantes e as combinações de consoantes e vogais. As vocalizações nos primeiros anos de vida funcionam como um jogo ou brincadeira vocal.

Aos dois meses de idade, a criança conhece e utiliza todos os sons lingüísticos que o ser humano consegue emitir. Alguns desses sons serão reforçados pelo ambiente cultural e irão compor os sons da língua falada deste ambiente. Os demais sons, não reforçados, serão esquecidos.

A partir do quarto ou quinto mês, aparece o balbucio. Nessa fase, os sons já expressam algum sentido e se caracterizam pela repetição de uma mesma sílaba várias vezes seguidas: ba-bá; má-má, bu-bu. O balbucio não é uma verdadeira forma de linguagem, uma vez que não possui o propósito de comunicação, mas uma atividade lúdica no nível sensório-motor. O balbucio, geralmente, compõe-se de sons labiais, porque a criança repete os mesmos movimentos. O jogo vocal, repetitivo, que mais parece uma brincadeira que a criança faz com os sons, chama-se ecolalia. A ecolalia trata-se apenas da repetição de sílabas ou de palavras. A criança repete-as pelo prazer de falar, sem nenhuma preocupação de dirigir-se a alguém, nem mesmo, às vezes, de pronunciar palavras que tenham sentido.

O período pré-lingüístico se estende, aproximadamente, até o 10º mês de idade. É caracterizado, principalmente, por vocalizações incompreensíveis e, a partir dos nove meses de idade, por algumas palavras tão mal formuladas que dificilmente são compreendidas. Nesta fase pré-lingüística, as vocalizações não possuem ainda função representativa, ou seja, uma relação objetiva entre os sons, conceitos e objetos. Com o aparecimento das primeiras palavras esta função começa a se estabelecer.

Dos 10 aos 12 meses, aproximadamente, há o aparecimento da palavra-frase: holofrase. Uma única palavra, geralmente um substituto, funciona como uma frase inteira. Se uma criança diz “mamãe” isto poderá significar: “Venha aqui mamãe”. A palavra-frase ao mesmo tempo é o sujeito e predicado. Os outros termos gramaticais aparecem no gesto e na expressão fisionômica da criança. É a chamada fala sincrética, em que o comprimento médio de uma emissão é de um morfema.

É importante observar que a criança, ao utilizar suas primeiras palavras, ou ao compreender as primeiras ordens, ainda não possui uma referência objetal, ou seja, uma relação exata entre a palavra e o objeto. O significado da palavra pode depender da situação em que se encontra a criança ou de quem pronuncia as palavras. Por exemplo, algumas crianças pequenas só entendem o que a mãe diz com determinados gestos e entonações. Assim, tanto a palavra dita pela criança ou ouvida, de início, não possuem uma referência objetal estável, pois a palavra ainda não se separa dos gestos, das entonações, das ações. Gradativamente, a referência objetal vai- se desenvolvendo.

Aos 15/18 meses, provavelmente, ocorre o verdadeiro início do desenvolvimento da linguagem, quando a criança passa a designar nomes para os objetos mais familiares como: mamãe, papai, nenê. Primeiro denominará as suas necessidades mais proeminentes e seus desejos mais veementes. Dará, depois, denominação às coisas do ambiente que a cerca. Em suas frases já aparecerão, na maioria das vezes, duas palavras, dois substantivos: por exemplo, “Mamãe, bola” (mamãe eu quero a bola). Aparecem nas suas frases os primeiros adjetivos. Isto faz com que a criança conquiste, através da palavra, um mundo novo de objetos que não está necessariamente, sob sua percepção visual imediata.

Essas primeiras sentenças de duas ou três palavras são versões telegráficas em que as preposições, conjunções, artigos, verbos auxiliares e as flexões são omitidos. A criança omite tais palavras, mas a ordem e o sentido da sentença são preservados, indicando o conhecimento de relações gramaticais básicas do sujeito, predicado e objeto.

Aos 24 meses, a criança, provavelmente, já será capaz de observar e interpretar uma figura. Dirá, por exemplo, à vista de uma figura, “Mamãe au, au” (Mamãe olha o cachorro). Enfim a criança se localizará no mundo, ocorrendo, a partir de então, o uso dos pronomes pessoais na primeira pessoa, como eu, meu, minha. Já fará juízo apreciativo dizendo que uma coisa é boa, má, bonita, feia, etc., fará as primeiras perguntas: “Onde papai foi?” Dos 2 aos 3 anos de idade, há na linguagem infantil, o aparecimento de locuções, a criança compreenderá o porquê de certas colocações, fará perguntas; conseguirá definir alguns conceitos, usará proposições condicionais, etc. Da percepção de qualquer acontecimento, conseguirá tirar uma conclusão. A criança desdobrará a frase simples em períodos compostos por coordenação e, mais tarde, utilizará subordinações. A coordenação é anterior à subordinação por ser uma lógica de justaposição, e a subordinação exige um trabalho lógico maior. A criança, nesta fase, já poderá usar, em sua fala todas as categorias gramaticais, ainda que imprecisas.

Graças ao processo de socialização, a criança amplia o seu vocabulário, não só quanto ao número de palavras, mas também quanto à complexidade dos conceitos utilizados. E o que é mais importante nesse processo é que a linguagem, uma vez apropriada, se transforma não só em instrumento do pensamento como, também, em instrumento de regulação do próprio comportamento.

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